quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sem divãs



Abalos sísmicos, retalhos multicor,
em noite de lua nova nasceu a arte livre de forma, de pudor 
No rádio, ruídos telemáticos, anunciando em dó menor,
eventos fantásticos, bombas no exterior
Vamos à rua, sapatear no silêncio,
buscar na loucura, o suspense de outra aventura
Porque pra beijar o céu  meu amor, só amor não é suficiente, tem que ser feio
Tem que ser indecente.




sexta-feira, 26 de outubro de 2012

No exceptions.


Do sonho de uma ilusão para ilusão de um sonho. Da imaginação para a imersão. Do retrato para o ato.

Esse novo horizonte assustador, de traços alheios, exige de mim um vício. Um culto, uma meta, um fim.
Numa tentativa de atender ao ultimato sem perder a vista integra dessa diversidade interessantíssima que é o homem. Declaro me viciado em algo comum a todos nós, sem exceções.

O ridículo.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cabeças têm que rolar




 Na Grève, em plena luz do dia, um monstro de ferro e madeira se ergue imponente sobre a multidão, sobre a massa que anseia por sangue. Cabeças vão rolar, cabeças têm que rolar. Dizem eles, que a paz do povo se equilibra nas pernas do cadafalso. Quem são eles? São os maestros dessa harmonia. São os detentores e propagadores da verdade, imunes a questão. Seus nomes são ocultados por títulos, seus crimes pela lei, a sua lei.
 Haverá sempre a lâmina para aqueles que questionarem. Haverá sempre quem questionar. Heróis só existem sob a sombra de seus inimigos. Cabeças vão rolar, cabeças têm que rolar. O espetáculo veste trajes de um julgamento, de um exemplo para a sociedade. Aqueles que assistem, não assistem. Condenam, mas não assistem.E cada um que acomoda o pescoço na base da maquina medonha é perdoado de seus crimes, livre para se tornar uma atração para aqueles que desconhecem da sua verdadeira história, da sua infelicidade.
 O inimigo do povo, antes disso é um amigo dos seus próprios valores. Um indivíduo com um nome. Um escritor, um pescador, um soldado, uma mãe, um Dr. Stockmann. Um de nós, que um dia antes se encontrava na mesma Grève encarando uma guilhotina distante, numa segurança aparente, gozando de uma liberdade intangível. E que agora é vitima de uma verdade que talvez não seja sua, mas que pouco importa, pois aqueles que questionam, aqueles que perturbam a paz, não são dignos da vida . Desprovido de seu direito de viver enquanto ainda respira, é um saco de carne, sangue e ossos que deve ser fatiado para alegria dos que virão. Porque afinal, hoje cabeças vão rolar, cabeças têm que rolar. Hoje a minha e amanha a sua.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Narciso sabia nadar



 Abriu os olhos e encarou a vastidão azul que cobria sua existência física.  Como era bela, a luz, o silêncio, o movimento, a leveza. Contemplando a sinergia que se materializava a sua volta de forma inédita, cedeu ao convite para o desconhecido, e imergiu. No leito dos pensamentos, refletiu sobre o dilema da beleza. Porque agora, finalmente livre do apego aos próprios traços, Narciso sentia a necessidade de se unir ao novo belo que consumia seus sentidos, de fazer parte de todo àquele azul, que para ele agora era o absoluto? Tentou amaldiçoar os deuses, tentou morrer, mas já se tornara um fantoche do desejo, desprovido do seu consciente, imerso por completo na admiração.
 Como o Olimpo  não ouvia seus gritos, negou o divino e convidou o filosófico para uma introspecção. Fechou os olhos e retornou a caverna espelhada que habitava anteriormente, antes do mergulho fatídico. Ficou na caverna até que sua imagem não precisasse mais do reflexo para acompanhá-lo. Abriu novamente os olhos, admirando as formas inéditas que a luz lhe presenteava, apaixonou se novamente pela imensidão azul, e viu sua imagem desaparecer. Mesmo invocando o seu outro belo, Narciso cedeu repetidamente a nova e desconhecida forma da beleza. Conclui, após a viagem platônica, que a beleza existe independente de forma ou vida, e que o seu laço com o desejo nasce do inédito, da primeira vista, da primeira sensação.
 Mas era insuficiente, pois ainda não explicava porque, aquele desejo, aquele sofrimento, era solitário, exclusivo, imune a qualquer compreensão, a qualquer ciência. Narciso então buscou no juízo de Kant um caminho para o seu próprio juízo.  Foi um erro, pois ao encarar o belo como despregado de qualquer conceito, como subjetivo e não adjetivo, viu a beleza se tornar intangível. Aquilo que até então o convidava para os prazeres do imprevisível, se transfigurou, transformando-se na feiúra, no outro lado do imã, invocando dentro do coração humano a rejeição, uma perversidade repleta de sensualidade.
 Atingido por sua nova compreensão, Narciso se viu livre das mãos do desejo. Recobrara os movimentos voluntários, e sentia a vida correr por suas veias. Olhou para cima e viu a luz que adentrava na caverna liquida e azul. Nadou como se um renascimento o aguardasse na superfície, como se fosse sair de um novo útero para então se esquecer de suas dúvidas e pecados. Contudo não chegou lá, havia imergido demais. Morreu afogado, com o seu ultimo desejo enchendo lhe os pulmões, ambos finalmente unidos, ambos sem vida. Eternizados no mito. 

domingo, 9 de setembro de 2012

Justiça dos tortos

Nenhum passado é mais amargo do que aquele que não é seu. 
Nenhum futuro é mais frustrante do que aquele que, por um passado que não é seu, 
deixa de ser seu. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Céio

No lusco-fusco da madrugada
  tua imagem e meu desejo
dançam ao ritmo do fascínio
    aguardando o destino intenso
que os aguarda

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Natural colateral


Em uma leitura inicial, a imagem mostra um recipiente de palha com uma seleção de frutas dispostas arbitrariamente. Contudo, a  natureza aqui, é uma mera ilusão da nostalgia ao qual representa. Estes frutos da terra são plastificações fiéis as suas formas e cores. A perfeição quase que transmite por imagem, os sabores e aromas que não os contemplam. São, desmascarados de sua irreal representatividade, de seu falso destino nutricional, um simples enfeite. Carecem da perecividade dos derivados de coisas vivas, e são portanto, tão duráveis, tão eternos quanto a própria imagem. 
Com essa ilustração mentirosa, questionamos o homem da atualidade sobre os seus reais valores. Diante da própria mortalidade, como um elemento vivo, uma fruta de Deus disposta sobre um recipiente universal, o ser humano supre seu desejo de imortalidade recriando falsos suspiros do eterno. Os produtos industrializados, mesmo insulsos, sem traços de vida, criam a sensação de saciedade. Como um narcótico, é momentâneo e vicioso, com efeitos colaterais depressivos e destrutivos tanto introspectivamente como para o ambiente vivo que o circunda. Seria o destino da raça humana também se tornar um enfeite para os olhos do nada? Com certeza, inertes como objetos de contemplação somos muito mais inofensivos.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Insetos e meus olhos.


Pouco antes do meu mundo desabar num infinito de conhecimentos objetivos, começo a perceber sinais invertrebrados de uma sorte sucinta. Uma joaninha explorando os azulejos do banheiro, um grilo arriscando a vida numa vaga de estacionamento, suspiros de primavera em pleno outono curitibano. Apesar de toda euforia urbana que se alonga no perímetro, meus olhos, quase que involuntariamente, encontram essas imprevisíveis e minimalistas imagens de vida. É como que em meio a pulsações plastificadas, minha alma  anseie por um pouco de ar puro. Como se desejasse se livrar desse couro de obrigações incompreendidas e explorar um universo utópico de possibilidades. A complexidade da vida humana cansa, então num ultimo suspiro ante afogar-me em preocupações insolúveis, sonho ver com olhos selvagens. Olhos onde o único instinto é de viver, para então explorar o imprevisível, seja em azulejos ou estacionamentos.

Dilema

Diferença é voz. Igualdade é linguagem. Qual buscar então?

terça-feira, 17 de abril de 2012

quarta-feira, 7 de março de 2012

Um luar para a traição



1.

Na atmosfera noturna da cidade, enquanto os trabalhadores do dia respiram silenciosos em seus abrigos, um homem caminha relutante pelo deserto de asfalto. As luzes, como estrelas alinhadas ao caminho sem vida, iluminam uma face de desespero. O homem volta para a penumbra, prefere seguir invisível até o seu destino vergonhoso.

Atrás da porta lascada do bar, um ambiente enfumaçado recolhe meia dúzia de seres inebriados e imprestáveis. Nenhum deles repara a entrada do homem desprezível, apenas estremecem com a brisa gélida que vem da rua. O barman enche mais um copo e volta a limpar o balcão. Na mesa de bilhar, um jogador solitário se alterna entre tacadas e baforadas de charuto. É para ele que o nosso pobre homem se dirige:

- Sr. Rouge?

Enquanto solta uma volumosa nuvem de fumaça, o jogador de bilhar fita com olhos felinos o homem que o aborda.

- Sr. Rouge, sou eu Jorge Millegan. Eu lhe contatei hoje pela manhã.

O homem então apaga o charuto e caminha para fora da luz ofuscante da mesa de bilhar. Sua silhueta larga e pesada é tão intimidadora quanto a sua voz.

- Desculpe Sr. Millegan, eu esperava alguém com um perfil um pouco diferente. Você não é como a maioria dos meus clientes.

- Sinto muito não poder dizer o mesmo Sr. Rouge. O senhor realmente superou minhas expectativas.

- Me chame de Jack. Então, qual é o trabalho?

- Conversemos lá fora enquanto nos dirigimos para o carro.

- Qual é o problema Sr. Millegan? Este local não é do seu agrado? Não se preocupe nenhum desses bêbados inúteis se interessa pela sua vida medíocre. Não é mesmo? Seus idiotas!

Ninguém responde.

- Por favor, eu insisto. – Acrescenta Jorge

- Ok, ok. Esse jogo já estava um tédio mesmo.

Já na rua a caminho do carro estacionado, os dois homens voltam a conversar.

- Como os meus serviços podem lhe ser úteis Sr. Millegan? Você não aparenta ser um homem de muitos inimigos.

- Minha mulher Rose – Congelou por um instante, não conseguia pronunciar aquele nome sem que seu corpo chacoalhasse por completo.

- O que há de errado com a Sra. Millegan? Ela não lava mais as suas cuecas?

- Não é isso! – Voltou a si num acesso de raiva – Aquela vagabunda, aquela mal agradecida. – Respirou por um instante – Está dormindo com outro na nossa cama.

- Traição? Ora em todo lugar falam em adultério. Essa coisa de amor bem-sucedido é muito chata, não interessa a ninguém.

- Não posso permitir! Não quando sei que é pelo outro que ela dedica o calor intenso da sua intimidade, do que era só meu. E se ela estiver amando o outro?

- Quer dar um fim no sócio então?

- Infelizmente não sei de quem se trata. Esse maldito é como o vento, entra e sai sem deixar rastros, como um profissional do adultério, um raparigo esperto.

- Não estou entendendo Sr. Millegan. Porque diabos me requisitou para esta noite, se nem ao menos sabe onde o alvo se encontra?

- Não é ele Jack. Quem tem que morrer é ela, só assim terei certeza que não haverá outros.

- Então faça o serviço você mesmo. Comigo você só complica e encarece as coisas.

- Você não entende. Eu jamais conseguiria fazer isso, meu amor pela ordinária impede meus dedos de apertarem o gatilho.

- Um covarde digno de pena é isso o que você é. Bom, que seja então, como procedemos?

- Ela está dormindo em casa, iremos juntos, disfarçados, para que pareça um assalto. Entre.

Jorge entra no carro e liga o motor. Jack senta no banco do passageiro e acende outro charuto. A lua que brilha redonda no céu nublado, presencia com indiferença a trama mortal que se alonga na sua vizinha terra. O astro não compartilha da obscuridade humana, apenas persiste em rodar até que o seu destino como o nosso encontre a morte, a destruição. Jack fala por último:

- Muito caro, isso vai lhe custar muito caro Sr. Millegan.

2.

Na Rua David Tranaro, nos subúrbios da cidade de Los Angeles, onde muitas famílias, como a dos Millegan, vivem uma vida pacífica, um automóvel segue silencioso com os faróis apagados. O carro para rente a calçada, e dele saem dois homens mascarados, um com um porte expressivo e assustador e o outro, o motorista, mais magro e menos intimidador. Sorrateiramente ambos caminham em direção a casa número 345.

- Por favor, Sr.Rouge, peço que mantenha o máximo de silêncio. Não quero que a vizinhança participe do que está para acontecer.

- O senhor me assusta Millegan. Não sei como perante tanto pavor, um covarde consegue formular um plano tão maléfico. E eu sou um profissional Jorge, não se esqueça disso.

Entrando pela porta dos fundos, os dois homens atravessam a cozinha e a sala em total escuridão. Sobem as escadas que levam aos dormitórios e então param diante de um quarto com a porta entreaberta, de onde se ouve uma respiração serena.

- É aqui. Ficarei no carro esperando para lhe levar pra casa. Por favor, não se alongue muito, ou o pânico irá tomar conta de mim – Insiste o Sr. Millegan.

- Nada com o que se preocupar. Apenas mantenha o motor ligado.

- Leve alguma coisa da casa para que o assalto pareça mais real.

- Talvez eu devesse lhe dar um tiro também. Agora saia daqui e me deixe trabalhar.

3.

Sentado no carro, cada segundo para Jorge parecia uma verdadeira eternidade, cada suspiro uma tempestade, cada barulho um julgamento. Sentia o medo correr pelas suas veias e esmagar o seu crânio. Fazia meia hora que Sr. Rouge estava na sua casa. Talvez se livrando de provas, ou talvez fugindo do trabalho. Não, pensou Jorge, o único covarde aqui sou eu.

Eis que como vindo da fumaça do próprio charuto, Jack Rouge materializa sua imensa e assustadora massa corpórea em frente ao carro, quase causando outra fatalidade na família Millegan.

- Meu deus! Que merda é essa Jack? Quer que eu morra¿ Por que demorou tanto?

- Serviço bem feito. Me tira daqui, agora.

A caminho do centro, Jack quebra o silêncio:

- Sabe Sr. Millegan, o adultério na minha vida é algo muito comum, eu mesmo nasci de um.

- Porque isso agora Jack? - Interrompe Jorge

- Não, escute o que eu vou lhe contar. Minha mãe era uma vagabunda, talvez a mais vagabunda que já existiu, traia seu marido com tamanha intensidade e diversidade, que faria qualquer prostituta sentir se santa. Pare o carro, aqui está bom.

- Como assim? Não há nada aqui.

- Pare a porra do carro e escute!

Jorge para o carro bruscamente e Jack continua sua história.

- Meu pai não era nenhum idiota, sabia que estava sendo traído e enquanto dormia ao lado de minha mãe, planejava sua vingança. E ele, diferente de um covarde como você, executou com 37 facadas, na frente de mim e dos meu irmãos, o fim cruel para o seu casamento utópico.

- Jack, do que você esta falando? Porque eu preciso ouvir isso agora? Vamos embora!

O assassino então pega o seu revolver e aponta para o motorista.

- Cale a boca e preste atenção!

Jorge Millegan sente nas têmporas o frio do metal da Magnum. Aquela arma já matara muita gente, era como se seus gritos ecoassem na cabeça de Jorge. Ele fica imóvel.

- Sabe Sr. Millegan. O que presenciamos hoje foi um triste infortúnio. Talvez fosse melhor se os maridos nunca soubessem.

- Jack?!!

O tiro ecoou pela rua vazia, alguns pombos que dormiam no telhado de um armazém abandonado levantaram vôo. Mas não há ninguém que se preocupe para ouvir.

4.

Na casa dos Millegan. Rose dorme num sono pacato, sonhando com o seu amante, que à surpreendera pouco tempo atrás, mascarado, para uma noite de amor.

- Jack, você é mesmo incrível. Jorge nunca faria algo assim por mim.

-Jorge é bom homem Rose, ele lhe dá tudo o que precisa. Eu apenas satisfaço um de seus prazeres.

-Não diga isso Jack.

-Shhh, descanse agora Rose, eu tenho que ir. Um cliente me aguarda.

FIM

Contra o centrão vote periferia

Patrícios e plebeus Centro e periferia Castelo e feudo Cobertura e laje Condomínio e comunidade Derrubar os muros Apagar as luzes Limpar o r...