quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Blek end Uait


Sempre fui um individuo apaixonado por cores. Nunca sozinhas, sempre mixadas, unidas contra o casual, elas participaram da minha essência. Em dia de aula de artes, sem duvida, não havia aluno que utilizasse mais material do que eu. Mesmo com a professora fazendo cara feia, o ritual se alongava em ritmo alucinante, digno de um Holi Festival. Era bom, talvez não o resultado, mas a sensação de brincar com as cores e bancar uma estilo propaganda do OMO, eram o Éden do meu colegial.

Depois de criar um pouco mais de personalidade, decidi que encontrar com as cores uma vez por semana não era suficiente. Passei a vesti-las, no limite do ridículo, ousando, inventando moda, a minha moda.

Mas então, a TV me falou que moda não se cria sozinha, se copia e se compra. A roupa que cobria meu corpo, não era pra mim, e sim para os olhos alheios. Tentei seguir a regra, só que toda vez que eu comprava algo, esse algo não era o algo que algum fodão usava alguns dias atrás. A moda pregava peças em mim, e no final o culpado era eu.

Não só no modo de se vestir, tudo tem o seu momento de luxo, a sua temporada de caça. Ousar nem mais em dia de Carnaval. As cores que eu tanto amava, agora só se misturam pelo puro interesse.

Tem gente que associa a felicidade a um mundo colorido. E ele é , as cores estão lá, só que agora mudaram de lado.

Ontem, assistindo um clássico dos anos 50, The Star, com a Bette Davis arrasando no papel principal, percebi que no preto e branco tudo parecia tão agradável, tão igual. A pobreza de cores não prejudicava a obra, mas sim reforçava as actuações e o enredo da historia.

O conforto no alvinegro mostra como eu deixei de acreditar nas cores, como o sistema me adoeceu como pessoa. É como se a cada dia, sem perceber, um pouco da minha essência fosse arrancada fora, de forma irrecuperável. A minha história, o meu protesto é um sopro do que me resta dela.
Tem vezes que da vontade de fazer como um monge, e congelar numa meditação eterna, num desapego total aos sentidos. Mas algo me impede, algo me diz que eu preciso alertar, mudar as pessoas de algum modo. Seria egoísta ignorar tudo isso.
Pra melhorar esse filme que é a vida, vou tentar colorir um pouco. Mas não com as velhas cores, e sim com novas idéias.

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