segunda-feira, 18 de julho de 2011

Oscar


Oscar riu com nunca havia rido antes. O rosto pálido se contorcia em espasmos de prazer retido. Nos seus olhos uma inércia opaca cintilava com as lágrimas de ironia. Não sabia por que, porém sentia que era incontrolável, e isso lhe agradava ainda mais. Algo naquele jovem havia despertado da escuridão da alma humana e se deliciava com a liberdade concedida. Mas o que havia causado tamanha possessão? Quem era o demónio que o habitava silenciosamente? Não importava mais, aquele corpo já não era mais feito de vida, mas sim de ódio. O futuro lhe reservara novos planos.
Oscar fechou a gaveta e começou a subir os degraus em direção ao quarto dos pais. A luz do luar que adentrava pela janela da sala refletia no rosto do menino, mostrando um largo sorriso. O sorriso da morte.

terça-feira, 12 de julho de 2011

The end is near



Faltam loucos. Não criminosos do politicamente correto, mas sambistas da sanidade mental. Daqueles barbudos apocalípticos, com pose profética e palavras aos sete ventos. Personagens da rua, que roubam o olhar da criança assustada e curiosa. Mãe com quem aquele homem tá falando? Não olhe filho. Censura essa mal justificada, fez só crescer nessa criança a existência de tais personalidades urbanas. Agora ela percebe a sua falta, e pergunta se todo mundo virou são. Ou, melhor ainda, todo mundo virou louco, na medida que na fauna humana não se distingue m mais as diversidades da normalidade. Seja como for, ainda faltam as maldições, os avisos do fim. O fim à ninguém mais interessa, pois esse não é previsível como tudo mais.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Aos Anjos



No dia-a-dia da loucura em comuna, faz-se grande aquele que pisa firme no chão. Nas alturas resguarda um olhar perdido, guloso pelo superior. Lhe disseram que é de lá que se vê o tudo, rastejando ao encontro do nada. Lá onde se tem asas mas não é preciso mais voar. Para que então tamanha penugem? Ora, somos os pavões da sua ideologia, a serviço do silêncio maior. Sendo assim, não lhe cabe mais buscar a razão.

Deixar a vida transpor o mítico. Descansar esse corpo de índio, sob o capacho existencial. É só o que me resta de honra, aguardando o pomposo dia do juízo final. Pito na boca, dragão terrestre à soltar cachimbadas.

Venham homens alados, que eu hei de cortar tuas asas.

Contra o centrão vote periferia

Patrícios e plebeus Centro e periferia Castelo e feudo Cobertura e laje Condomínio e comunidade Derrubar os muros Apagar as luzes Limpar o r...