terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Caracol


Não obstinado de um destino visível, segue no seu trajeto rasteiro sem pressa. Na concha assimétrica e espiralada sobre seu dorso volátil, não carrega nada, apenas a rigidez de um último recurso. De todos os seres que desfilam sua massa viva nesse planeta de riquezas, este provavelmente é o mais inútil, o menos interessante, o não poético.
Mas a falta de qualidades, de estímulos aos sentidos, faz desse animal, na sombra de sua tímida existência, uma prova de que a vida que pulsa em cada um de nós não precisa ser complexa e muito menos aparente.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Noir


Ela chegou como quem não fora convidada mas sabia da exclusividade de sua presença. Não cumprimentou e sim fitou com olhos felinos de indiferença todos que saboreavam de seu doce aroma, intoxicante naquele submundo de tabaco e destilados. Sentou se na mesma mesa, e com o mesmo gesto fez uma taça de de tinto pousar na sua frente. Não bebeu de prontidão, ergueu o recipiente e direção a luz e analisou o translucido avermelhado por alguns instantes. Via-se que sabia sobre vinhos, pois até gracejar seu paladar com o primeiro gole, um ritual de sentidos havia se alongado minuciosamente por minutos. Como uma boemia de tavernas, terminou a taça e pediu uma garrafa do mesmo liquido. Clientes observavam, reclusos em sua curiosidade silenciosa, enquanto a personalidade noturna secava cada gota do seu delicado rouge. Então sem prévio aviso, ascendendo de uma coragem deliciosamente alcoólica, a moça dirigiu se com pressa ao centro do recinto. Ao fundo, T. Monk dedilhava seu sax, fazendo o ambiente enfumaçado vibrar ao ritmo do improviso dos prazeres do som. A amante de vinhos, girou graciosamente, como se, em um campo de vinhedos, despedisse-se de todas suas preocupações e encontrasse a assemblage perfeita para a eternidade da alma. Em transe, provou da tranquilidade do seu éden e repousou sorridente, com a doçura da uva ainda anestesiando suas papilas e o jazz ressoante em seus sonhos. Abriu os olhos, era dia, rachaduras no teto recriavam sua realidade. Uma vida de fragilidade e tristeza submissa lhe esperava no lado de fora. Mas a noite seria novamente seu oásis de devaneios, e mesmo que rotineira, a noite nunca era a mesma. No místico da escuridão, sabia que as surpresas estariam sempre lá. Saiu a encontro do óbvio.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Instante


O instante não é o instinto
Muito menos a emoção
Mas sim um conselho sucinto
De que voltar a errar
Lhe cria noção







quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ébano


Havia chegado longe, tão longe que já não havia como voltar. Contudo, voltar nunca fora uma opção. A vida lhe chamava como a natureza chama pelo ser domesticado, distribuindo em seus sentidos um pouco do que poderia ser inédito, mas curiosamente maternal. O desejo de liberdade, era evidente, de modo que materializado, cortava as raízes que fixavam o menino ao seu solo natal. A sua imagem, antes geometricamente previsível, era agora um borrão, transmutado diariamente pela abstinência de possibilidades.
No baú do medo, escancarado sobre os pés descalços, brilha uma chama invencível, que intensifica-se a cada engano, iluminando o caminho deste novo peregrino das verdades.

domingo, 25 de setembro de 2011

O ofício do ofício


O ofício do ofício
é dilatar o tempo
contrair o espaço
negar o intenso
impor a exaustão
contra o inesperado
buscar a constância
produtiva não mental
colher o fruto
que brota podre
transgênico
psicodélico
digerido em ilusão
descarregado
sem cerimônia
na fossa
do vizinho
e o pior
sem lavar
as mãos

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Tamborisse


Humildade evapora, se esvai perde o cheiro feito perfume velho de momentos faceiros até que só sobre o delírio etílico, passível do conjunto que vira unidade sensível, a solidããão. Tom tom tom. E mesmo que adepto do impulsivo renego o abrigo, dado pelo amigo que diante do penhasco conecta os olhos com o horizonte e não o buraco onde eu queimo, na escuridããão. Tom tom tom. Mesmo se fosse por um segundo, um minuto, um milímetro, anseio, que o mundo que vivo, respiro o espirro alheio, baixasse a crina, confiante como ave de rapina, e defrontasse o medo, a compreesãããão.

E eu bato o tambor esperando.

Tom tom tom.

domingo, 4 de setembro de 2011

Rumo




Que a pura e simples passagem
Fique cega de desfechos
E que todo passo seja o começo
De uma bela e imprevisível viagem

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Solidez


Puro de idéias, levito em minhas ideologias. Na fuga do hedonismo, de tudo que inebria a existência, eu perco prumo. A escuridão me consome, como ferrugem em um parafuso esquecido, um objeto desprovido de sua função. Esquecimento, destino perpétuo para aqueles que negam concepções, daqueles que desconhecem a negação, a conclusão. Compreenda, compreenda, compreenda. O mantra que caminha livre em meus pensamentos, é como o vento. Invisível, imprevisível e intangível, ele se mostra onipresente, sacudindo tudo que me fixa ao chão, a vida. Na defensiva não me deparo com nenhum ataque. Talvez esteja na hora de mudar para ofensiva, ofender, contrariar o verbo, verbalizar o impulsivo. O moinho se ergue rotativo, enquanto a lança que empunho perde o fio. Com um tapa silêncioso no dorso do corcel inicio o galope, rumo ao sangue, rumo a sólida compreensão.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Oscar


Oscar riu com nunca havia rido antes. O rosto pálido se contorcia em espasmos de prazer retido. Nos seus olhos uma inércia opaca cintilava com as lágrimas de ironia. Não sabia por que, porém sentia que era incontrolável, e isso lhe agradava ainda mais. Algo naquele jovem havia despertado da escuridão da alma humana e se deliciava com a liberdade concedida. Mas o que havia causado tamanha possessão? Quem era o demónio que o habitava silenciosamente? Não importava mais, aquele corpo já não era mais feito de vida, mas sim de ódio. O futuro lhe reservara novos planos.
Oscar fechou a gaveta e começou a subir os degraus em direção ao quarto dos pais. A luz do luar que adentrava pela janela da sala refletia no rosto do menino, mostrando um largo sorriso. O sorriso da morte.

terça-feira, 12 de julho de 2011

The end is near



Faltam loucos. Não criminosos do politicamente correto, mas sambistas da sanidade mental. Daqueles barbudos apocalípticos, com pose profética e palavras aos sete ventos. Personagens da rua, que roubam o olhar da criança assustada e curiosa. Mãe com quem aquele homem tá falando? Não olhe filho. Censura essa mal justificada, fez só crescer nessa criança a existência de tais personalidades urbanas. Agora ela percebe a sua falta, e pergunta se todo mundo virou são. Ou, melhor ainda, todo mundo virou louco, na medida que na fauna humana não se distingue m mais as diversidades da normalidade. Seja como for, ainda faltam as maldições, os avisos do fim. O fim à ninguém mais interessa, pois esse não é previsível como tudo mais.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Aos Anjos



No dia-a-dia da loucura em comuna, faz-se grande aquele que pisa firme no chão. Nas alturas resguarda um olhar perdido, guloso pelo superior. Lhe disseram que é de lá que se vê o tudo, rastejando ao encontro do nada. Lá onde se tem asas mas não é preciso mais voar. Para que então tamanha penugem? Ora, somos os pavões da sua ideologia, a serviço do silêncio maior. Sendo assim, não lhe cabe mais buscar a razão.

Deixar a vida transpor o mítico. Descansar esse corpo de índio, sob o capacho existencial. É só o que me resta de honra, aguardando o pomposo dia do juízo final. Pito na boca, dragão terrestre à soltar cachimbadas.

Venham homens alados, que eu hei de cortar tuas asas.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Partes



Teus cabelos, teus olhos, tua boca ...

Insensato de minha parte te querer em partes
Quando aquilo que eu mais preciso
É teu coração

Que pelo outro ainda bate

terça-feira, 31 de maio de 2011

Bainha



Porque diante da luta

o corpo reluta,

o coração acelera

e a alma guerreira

se perde e se adultera?


Seriam teus medos reais,

materiais como a espada na mão,

ou aquilo que te ilude

é a pura ilusão?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Depois de enlouquecer..



Fale o sentido do caminho que verte. Desenhe um mapa de cegos, colorido e com legenda. Avise os monumentos de sua elegância inerte. Ensine a esquecer, e depois obrigue que se aprenda. Uive com os lobos, caçe com os lobos. Então, no momento errado, faça-os de bobos. Guarde a vitória do dia injusto. Não cobre nada por tudo, a qualquer custo. Procure nos lugares que não lhe indicaram. Procure por aquilo que já encontraram. Nada de sanidade hoje. Outro dia, que não esse, é só mais um dia pra perder o interesse. O velho é previsível e o novo pueril. Abrace o erro com carinho, pois hoje, este será seu companheiro mais compreensível e viril.

sábado, 30 de abril de 2011

Paciência



Só um pouco do muito que existe
Não é muito do pouco que quero
Sou um dos poucos que há muito resiste
Pois é muito o que aos poucos espero

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Bento






No litoral paranaense, prá lá da serra do mar, um condomínio brota da restinga rala, junto a ninhos de Quero-queros e Corujas Buraqueiras. Nessa terra de vibrações sazonais, de muitos quartos e poucas fronhas, nosso personagem flui de baía em baía, cuidando de florestas e lagos artificiais deixados a esmo, largados à maresia.


É manhã de sexta-feira, um santo feriado para os feridos do pós Carnaval. Montado em seu corcel prateado da Caloi, Bento segue com pedaladas firmes, focado como um soldado, que sabe o castelo a invadir.
O calor já não judia mais da pele morena, que tanto viu o sol. Nosso guerreiro luta em terra própria, sabe dos anos em que o mar foi seu vizinho. E quantos anos! Os poucos fios descoloridos sobre o crânio, avisam que terceira idade já chegou ou está a bater na porta. Os dentes, estes tão restritos quanto a cabeleira, mostram um sorriso que faria os britânicos legalizarem a escova de dentes.
Mas para por fim aos devaneios da beleza superficial, citemos aquilo que faz de Bento, e só Bento um personagem em Atami e redondezas.
Já no seu destino, uma casa com cerca multicor e cães que só latem, Bento entra com ares de senhor, pois sabe que é bem vindo. A grama verde que da contraste a vizinhança é tapete de seu feitio, e é dela que se fala na sua abordagem inicial:

- Ooô danana tabouneta ssa grama. Cortetuidnini quata.

Inebriada pela morbidez matinal, a fala do velho jardineiro chega como uma sopa de letras nos ouvidos pouco sensíveis da dona da casa. A resposta acaba sendo um convite para uma xícara de café. E Bento, tomando proveito de sua anfitriã, inicia então uma prosa unilateral.
O assunto agora é o seu mais novo hobby, este que antes fora preenchido por uma campanha inter-municipal de bocha de relativo sucesso. O homem, pelo que afirma, não usa mais do seu tempo para lançar bolas de pedra fria, mas sim senhoras septuagenárias aos ares, com passos de dança ousados até para patinadores de gelo.
O grupo de dança da melhor idade, é mais uma prova do amor inusitado que este jardineiro sente por mulheres de maturidade insuperável. Não existem limites para o romantismo deste Casanova geriátrico. Se tiver acima dos 65, Bento não poupa.
Por coincidência naquele mesmo dia, na mesma casa dos cães que só latem, uma matriarca, nos seus fresquíssimos 88 anos de idade, rabiscava letras em uma revista de palavras cruzadas. Um rápido trocar de olhares , foi o suficiente para que a conversa saísse da mesa de café. O dançarino levantou-se, e foi em direção a avó. Então como um japonês, que tem o tacto para lidar com bonsais, pegou as mãos da senhora e iniciou um tutorial prático da dança em duplas. A valsa, mesmo com a mulher sentada, alongou se por vários minutos cômicos.
Apesar dos risos da dona da casa, aquilo ,para Bento, era como a primavera, como uma dança de acasalamento de flamingos. Como desejava que fosse eterno! E realmente parecia que seria, até que um celular vibrou no bolso do homem. Do outro lado da linha uma mulher de 68 anos, com um anel de ouro na mão esquerda, esbravejava perguntas retóricas. Estava na hora do jardineiro voltar. A verdadeira dança começaria em casa.

domingo, 17 de abril de 2011

Incompleto


Com o primeiro raio de sol da manhã, acordo de uma noite interminável. Do meu lado, teu corpo é frio como as lágrimas no travesseiro. Tua mão, esticada sobre o lençol, não responde mais aos meus afagos. O sorriso do dia anterior, a conversa sobre o casamento, instantes que diziam sobre uma vida inteira. Instantes que, logo mais, seriam os últimos. O reflexo pálido no espelho traz lembranças. O café insalubre, a conversa jogada fora, o dia promissor. Mesmo sem vida, sua beleza quase que transmite um sono prolongado. Um descanso merecido, de uma vida dedicada, de uma vida inacabada. A doença veio junto com as promessas, e, iludido pela utopia da eternidade, neguei tua vontade de seguir adiante. Agora ao seu lado, não sou digno de compreender. Seria bom se fossemos juntos. Como seria bom. Mas sem você sou um covarde, incapaz de tirar a própria vida. Nessa hora de desespero, o que você me aconselharia? Provavelmente diria algo como : " Não seja egoísta, viva e não reclame ". Sempre foi sábia nas tuas afirmações, uma mulher imponente sobre os demais. Diante da dor, resistiu contra o desagrado. Coitada, como sofreu. O fim silencioso do teu sofrimento, é agora o inicio do meu abismo. Não sei se terei forças, só sei que serei ,daqui pra frente, incompleto.

Incubismo


Do que geométrico, obtuso e convexo

Prefiro um mundo sem forma e sem nexo

Me ensinaram a perfeição das coisas. Falaram que em tudo, há uma causa e uma conseqüência. Perfilaram as incongruências e, sem mais nem menos, negaram todas as afirmações. Afirmaram que com negação se tem coerência. Coerente ou não, jamais duvidem da ciência. Motivos, são para motivar a desistência. Coragem e honra, só pra quem quer morrer de vivência. Porque na geometria da vida, formas são aquelas que ditam o triste ritimo da existência. Nesse pesadelo, me encontro tranquilo só em consciência. O socorro vem do destino, com toda sua irreverência. Ele me pergunta o que quero, eu respondo: Felicidade de preferência

terça-feira, 29 de março de 2011

Mau

Pra refrescar memórias, entrei fundo nesse baú de vinte anos. Precisamente, naquela época em que parecia tão distante, o prometido futuro. No tempo em que a maior preocupação era em não perder um momento sequer, com preocupações. Incrível como a infância tem o seu modo automático de aproveitar a vida. É uma pena que a cada geração que passa, maturidade vira conceito de sucesso. Prematuro ou não, pra não falar em desgraça, ficam as doces lembranças do meu passado. Como era bom virar tudo de ponta cabeça e não ser rejeitado. Criança é como caubói solitário, índio sem tribo, o mundão livre a explorar. Dava até pra tirar um sarro, agora eles me observam.

O novo layout do blog fica em homenagem ao melhor Mau que a tv nos deu. E sua "Gargalhada Fatal". saudades

segunda-feira, 28 de março de 2011

Vida longa aos mascarados


Concebidos em ventres comuns, esses personagens desfilam pela história despercebidos. Extasiantes no silêncio da própria existência, encontram a glória no leito do rio das fraquezas. São perceptíveis pela impura inocência e incompreensíveis aos olhares afiados. Moram em casas como nós, mas o mudo é o seu jardim de rosas.
Se questionados sobre algo, usufruem da falsa ignorância enquanto planejam o golpe fatal. Calculistas, matemáticos da soberba prosperidade, os mascarados comem do caviar da vitória inesperada. Odiados pelas vozes, completamente adorados pelos âmagos, estes são aqueles que sentarão no trono da eternidade. E nós, vassalos dos próprios sentidos, gritaremos em voz alta:

Vida longa aos mascarados!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Reflexão


Mentir, em geral, é distorcer uma verdade em prol de um interesse instantâneo. A desonestidade, em contra partida, tem caráter cancerígeno, de parasitismo tamanho, que acaba fantasiando a naturalidade humana. Seu objetivo é aniquilar a consciência, trazendo o prazer narcótico da maldade e da superioridade sobre a lei. E como toda droga, vicia.
Não existe cura para aqueles que são contaminados. Enquanto consumidos pelo ódio das suas vítimas, encontram abrigo junto a outros como eles. E tudo se torna mais um personagem descriminativo dos muitos que corroem a sociedade. A única conclusão plausível em relação a tudo isso, é que desonestos sejam aqueles que mentem para si mesmos.
Sempre haverá aqueles para falar, criticar, tomar posições, enquanto nada acontece. Então pela bilhonésima vez, fica a sugestão de parar e olhar um pouco pra dentro. Não que você seja um desonesto, mas mudar muito a si mesmo é logicamente mais fácil do que perder a vida toda pra mudar pouco o mundo. O tempo é o único que não mente.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Morte

Sábios e profetas
Ciência e religião
Deram, com certeza
A derradeira premonição

De que toda vida
Mesmo saudável, fiel
Nasce com data marcada
Para o fim frio e cruel

Se é certo que virá
Deixe que me guiem
Por onde o sol não chega
Pra onde eu hei de chegar

Ficam as rosas, as prosas
Desabrochando nos puros corações
A dor iminente perene
O tempo cura com novas canções

terça-feira, 15 de março de 2011

domingo, 13 de março de 2011

Perspective


Failure can be the next step for success.


Will you take the risk? Will you face the test?


As long as you survive, life will always gift you with the pleasure of surprise.


Its ok to be afraid sometimes. If fear you never felt, your life must be easy, but also, as boring as hell.


So fail and fail again. Then when you feel the warm breath of success, you will know that happiness comes before cash.

sábado, 12 de março de 2011

A partida




Ela diz-se leve, inspirada. Goza da jovialidade repentina, inesperada.
Sorri com carinho para o horizonte. Pensamento perdido, distante.
Calam-se as vozes. Seu sonhar é uma brisa, no céu das apoteoses.
Já a defrontar a longa estrada. Mal sabe ela, que todo peso da vida.
Cabe ao fardo do poeta, que vê partir a sua amada.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Bomba


Se você é um daqueles caras que tem vontade de explodir tudo, mas acaba barrado por um código moral, uma lei qualquer, aguarde. Agora, se não for nada disso, um pacifista, defensor de um mundo coloridinho, politicamente correto, sugiro que tire o bolo do forno e vá ler algum livro infantil da Madonna.
Sem mais delongas, o papo é o seguinte, eu, como tu e o capitão Nascimento, sou a favor de de mandar tudo pelos ares. Sabe como é, pegar essa merda toda, e dar restart, não ao estilo rock marica, mas, com um outro Big Bang. Bonito ou não, isso aqui não é desfile de moda, não tem Gisele na passarela, e é o teu que ta na reta.
Só que a realidade é essa aqui : Merda não tem pavio. Não da pra acender e correr pro colo da mãe, e se pisar nela só espalha mais. Fazer o que então?
Cutuca. Isso mesmo, pega o graveto e atormenta. Faz a merda pedir pra sair, cospe na cara dela, humilha. Só que não vai fazer isso com palito de dente, se não fede pro teu lado. O que você tem de cabeça, seja inteligência emocional ou cultural é que vai dizer o tamanho da sua vara. E quando o assunto é foder com alguém, tamanho é documento.
Pode ver, nego de sucesso, self-made de verdade, só ta por cima porque quem ta em baixo não alcança. Por isso cara, nunca é tarde para acreditar, fazer bagagem e começar a pular as muralhas. Vive tua vida com bravura por enquanto, por que, vai que um dia a nossa bomba explode.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Chapéu de côco




Seria injusto julgar o homem acima como contestador. Ele foi, apenas, um dos poucos que viu e desfrutou da verdadeira felicidade. E feliz da vida, sorriu para os outros com poesia. Contestadores são aqueles que sentiram na alma a alegria desse sambista, e que tentam continuar a festa. Pois como diria o Nelson Sargento "Cartola não existiu. Foi um sonho que tivemos" um sonho que morreu pobre, mas imortalizado no samba, que, convenhamos, emociona.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Obsessão


Quem dera eu fosse
o mestre dos disfarces
Te acompanharia
com minhas mil faces
Obsessão por ti
eu viveria
sem que me notasse

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um beijo de luz


O dia se mostrava impune, e fazendo do sol sua mão de ferro, irradiava sobre as ruelas e edifícios da cidade grande. Os homens e mulheres, que transitavam por essas ruas, nada podiam com o fogo que vinha dos céus, e por isso se designavam a manter a rotina imune aos castigos climáticos. O sol não parava para assistir ao universo, ocupava se na combustão eterna, o cidadão não podia dar se ao luxo de assistir ao sol, tinha suas devidas ocupações.

Dentro de um veículo, com janelas obviamente abertas, Anita e Pedro refrescavam-se com o vento, que movido de contragosto batia violentamente no rosto dos irmãos, procurando manter o fluxo que lhe fora destinado. Mastigando e amassando o pacote com fulgor, Pedro deliciava-se com o lanche de boa hora, e parecia pouco se preocupar com a verdadeira sinfonia proporcionada pelo seu pequeno momento de prazer. A cada abocanhada, pequenas imagens passavam pela cabeça daquele garoto de treze anos, imagens do passado, do presente e do futuro. E neste sonho de olhos abertos, despregado do meio fisico, anestesiado com pão e queijo, Pedro decidiu se debruçar sob a janela do carro, e olhar o céu que resplandecia num azul unicor, cortado apenas por riscos brancos da poluição urbana. Foi então que que seus olhos encontraram o sol, e cegado pela luz que emanava daquele corpo celeste, o garoto virou para Anita e disse:


- Dia lindo


E foi só, Pedro voltou a sonhar, sonhava agora que era o sol, imponente sob os astros, imune a qualquer moral. Observava a imensidão negra do universo, e sonhava em voz alta expressando-se com fogo, castigando aqueles que jamais aceitariam seus sonhos. Sonhos que jaziam silenciosos, esquecidos na alma humana.

Contra o centrão vote periferia

Patrícios e plebeus Centro e periferia Castelo e feudo Cobertura e laje Condomínio e comunidade Derrubar os muros Apagar as luzes Limpar o r...