Com o primeiro raio de sol da manhã, acordo de uma noite interminável. Do meu lado, teu corpo é frio como as lágrimas no travesseiro. Tua mão, esticada sobre o lençol, não responde mais aos meus afagos. O sorriso do dia anterior, a conversa sobre o casamento, instantes que diziam sobre uma vida inteira. Instantes que, logo mais, seriam os últimos. O reflexo pálido no espelho traz lembranças. O café insalubre, a conversa jogada fora, o dia promissor. Mesmo sem vida, sua beleza quase que transmite um sono prolongado. Um descanso merecido, de uma vida dedicada, de uma vida inacabada. A doença veio junto com as promessas, e, iludido pela utopia da eternidade, neguei tua vontade de seguir adiante. Agora ao seu lado, não sou digno de compreender. Seria bom se fossemos juntos. Como seria bom. Mas sem você sou um covarde, incapaz de tirar a própria vida. Nessa hora de desespero, o que você me aconselharia? Provavelmente diria algo como : " Não seja egoísta, viva e não reclame ". Sempre foi sábia nas tuas afirmações, uma mulher imponente sobre os demais. Diante da dor, resistiu contra o desagrado. Coitada, como sofreu. O fim silencioso do teu sofrimento, é agora o inicio do meu abismo. Não sei se terei forças, só sei que serei ,daqui pra frente, incompleto.
domingo, 17 de abril de 2011
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