No litoral paranaense, prá lá da serra do mar, um condomínio brota da restinga rala, junto a ninhos de Quero-queros e Corujas Buraqueiras. Nessa terra de vibrações sazonais, de muitos quartos e poucas fronhas, nosso personagem flui de baía em baía, cuidando de florestas e lagos artificiais deixados a esmo, largados à maresia.
É manhã de sexta-feira, um santo feriado para os feridos do pós Carnaval. Montado em seu corcel prateado da Caloi, Bento segue com pedaladas firmes, focado como um soldado, que sabe o castelo a invadir.
O calor já não judia mais da pele morena, que tanto viu o sol. Nosso guerreiro luta em terra própria, sabe dos anos em que o mar foi seu vizinho. E quantos anos! Os poucos fios descoloridos sobre o crânio, avisam que terceira idade já chegou ou está a bater na porta. Os dentes, estes tão restritos quanto a cabeleira, mostram um sorriso que faria os britânicos legalizarem a escova de dentes.
Mas para por fim aos devaneios da beleza superficial, citemos aquilo que faz de Bento, e só Bento um personagem em Atami e redondezas.
Já no seu destino, uma casa com cerca multicor e cães que só latem, Bento entra com ares de senhor, pois sabe que é bem vindo. A grama verde que da contraste a vizinhança é tapete de seu feitio, e é dela que se fala na sua abordagem inicial:
- Ooô danana tabouneta ssa grama. Cortetuidnini quata.
Inebriada pela morbidez matinal, a fala do velho jardineiro chega como uma sopa de letras nos ouvidos pouco sensíveis da dona da casa. A resposta acaba sendo um convite para uma xícara de café. E Bento, tomando proveito de sua anfitriã, inicia então uma prosa unilateral.
O assunto agora é o seu mais novo hobby, este que antes fora preenchido por uma campanha inter-municipal de bocha de relativo sucesso. O homem, pelo que afirma, não usa mais do seu tempo para lançar bolas de pedra fria, mas sim senhoras septuagenárias aos ares, com passos de dança ousados até para patinadores de gelo.
O grupo de dança da melhor idade, é mais uma prova do amor inusitado que este jardineiro sente por mulheres de maturidade insuperável. Não existem limites para o romantismo deste Casanova geriátrico. Se tiver acima dos 65, Bento não poupa.
Por coincidência naquele mesmo dia, na mesma casa dos cães que só latem, uma matriarca, nos seus fresquíssimos 88 anos de idade, rabiscava letras em uma revista de palavras cruzadas. Um rápido trocar de olhares , foi o suficiente para que a conversa saísse da mesa de café. O dançarino levantou-se, e foi em direção a avó. Então como um japonês, que tem o tacto para lidar com bonsais, pegou as mãos da senhora e iniciou um tutorial prático da dança em duplas. A valsa, mesmo com a mulher sentada, alongou se por vários minutos cômicos.
Apesar dos risos da dona da casa, aquilo ,para Bento, era como a primavera, como uma dança de acasalamento de flamingos. Como desejava que fosse eterno! E realmente parecia que seria, até que um celular vibrou no bolso do homem. Do outro lado da linha uma mulher de 68 anos, com um anel de ouro na mão esquerda, esbravejava perguntas retóricas. Estava na hora do jardineiro voltar. A verdadeira dança começaria em casa.
O calor já não judia mais da pele morena, que tanto viu o sol. Nosso guerreiro luta em terra própria, sabe dos anos em que o mar foi seu vizinho. E quantos anos! Os poucos fios descoloridos sobre o crânio, avisam que terceira idade já chegou ou está a bater na porta. Os dentes, estes tão restritos quanto a cabeleira, mostram um sorriso que faria os britânicos legalizarem a escova de dentes.
Mas para por fim aos devaneios da beleza superficial, citemos aquilo que faz de Bento, e só Bento um personagem em Atami e redondezas.
Já no seu destino, uma casa com cerca multicor e cães que só latem, Bento entra com ares de senhor, pois sabe que é bem vindo. A grama verde que da contraste a vizinhança é tapete de seu feitio, e é dela que se fala na sua abordagem inicial:
- Ooô danana tabouneta ssa grama. Cortetuidnini quata.
Inebriada pela morbidez matinal, a fala do velho jardineiro chega como uma sopa de letras nos ouvidos pouco sensíveis da dona da casa. A resposta acaba sendo um convite para uma xícara de café. E Bento, tomando proveito de sua anfitriã, inicia então uma prosa unilateral.
O assunto agora é o seu mais novo hobby, este que antes fora preenchido por uma campanha inter-municipal de bocha de relativo sucesso. O homem, pelo que afirma, não usa mais do seu tempo para lançar bolas de pedra fria, mas sim senhoras septuagenárias aos ares, com passos de dança ousados até para patinadores de gelo.
O grupo de dança da melhor idade, é mais uma prova do amor inusitado que este jardineiro sente por mulheres de maturidade insuperável. Não existem limites para o romantismo deste Casanova geriátrico. Se tiver acima dos 65, Bento não poupa.
Por coincidência naquele mesmo dia, na mesma casa dos cães que só latem, uma matriarca, nos seus fresquíssimos 88 anos de idade, rabiscava letras em uma revista de palavras cruzadas. Um rápido trocar de olhares , foi o suficiente para que a conversa saísse da mesa de café. O dançarino levantou-se, e foi em direção a avó. Então como um japonês, que tem o tacto para lidar com bonsais, pegou as mãos da senhora e iniciou um tutorial prático da dança em duplas. A valsa, mesmo com a mulher sentada, alongou se por vários minutos cômicos.
Apesar dos risos da dona da casa, aquilo ,para Bento, era como a primavera, como uma dança de acasalamento de flamingos. Como desejava que fosse eterno! E realmente parecia que seria, até que um celular vibrou no bolso do homem. Do outro lado da linha uma mulher de 68 anos, com um anel de ouro na mão esquerda, esbravejava perguntas retóricas. Estava na hora do jardineiro voltar. A verdadeira dança começaria em casa.
Casanova geriátrico, GENIAL!
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