segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um beijo de luz


O dia se mostrava impune, e fazendo do sol sua mão de ferro, irradiava sobre as ruelas e edifícios da cidade grande. Os homens e mulheres, que transitavam por essas ruas, nada podiam com o fogo que vinha dos céus, e por isso se designavam a manter a rotina imune aos castigos climáticos. O sol não parava para assistir ao universo, ocupava se na combustão eterna, o cidadão não podia dar se ao luxo de assistir ao sol, tinha suas devidas ocupações.

Dentro de um veículo, com janelas obviamente abertas, Anita e Pedro refrescavam-se com o vento, que movido de contragosto batia violentamente no rosto dos irmãos, procurando manter o fluxo que lhe fora destinado. Mastigando e amassando o pacote com fulgor, Pedro deliciava-se com o lanche de boa hora, e parecia pouco se preocupar com a verdadeira sinfonia proporcionada pelo seu pequeno momento de prazer. A cada abocanhada, pequenas imagens passavam pela cabeça daquele garoto de treze anos, imagens do passado, do presente e do futuro. E neste sonho de olhos abertos, despregado do meio fisico, anestesiado com pão e queijo, Pedro decidiu se debruçar sob a janela do carro, e olhar o céu que resplandecia num azul unicor, cortado apenas por riscos brancos da poluição urbana. Foi então que que seus olhos encontraram o sol, e cegado pela luz que emanava daquele corpo celeste, o garoto virou para Anita e disse:


- Dia lindo


E foi só, Pedro voltou a sonhar, sonhava agora que era o sol, imponente sob os astros, imune a qualquer moral. Observava a imensidão negra do universo, e sonhava em voz alta expressando-se com fogo, castigando aqueles que jamais aceitariam seus sonhos. Sonhos que jaziam silenciosos, esquecidos na alma humana.

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