Ela chegou como quem não fora convidada mas sabia da exclusividade de sua presença. Não cumprimentou e sim fitou com olhos felinos de indiferença todos que saboreavam de seu doce aroma, intoxicante naquele submundo de tabaco e destilados. Sentou se na mesma mesa, e com o mesmo gesto fez uma taça de de tinto pousar na sua frente. Não bebeu de prontidão, ergueu o recipiente e direção a luz e analisou o translucido avermelhado por alguns instantes. Via-se que sabia sobre vinhos, pois até gracejar seu paladar com o primeiro gole, um ritual de sentidos havia se alongado minuciosamente por minutos. Como uma boemia de tavernas, terminou a taça e pediu uma garrafa do mesmo liquido. Clientes observavam, reclusos em sua curiosidade silenciosa, enquanto a personalidade noturna secava cada gota do seu delicado rouge. Então sem prévio aviso, ascendendo de uma coragem deliciosamente alcoólica, a moça dirigiu se com pressa ao centro do recinto. Ao fundo, T. Monk dedilhava seu sax, fazendo o ambiente enfumaçado vibrar ao ritmo do improviso dos prazeres do som. A amante de vinhos, girou graciosamente, como se, em um campo de vinhedos, despedisse-se de todas suas preocupações e encontrasse a assemblage perfeita para a eternidade da alma. Em transe, provou da tranquilidade do seu éden e repousou sorridente, com a doçura da uva ainda anestesiando suas papilas e o jazz ressoante em seus sonhos. Abriu os olhos, era dia, rachaduras no teto recriavam sua realidade. Uma vida de fragilidade e tristeza submissa lhe esperava no lado de fora. Mas a noite seria novamente seu oásis de devaneios, e mesmo que rotineira, a noite nunca era a mesma. No místico da escuridão, sabia que as surpresas estariam sempre lá. Saiu a encontro do óbvio.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Contra o centrão vote periferia
Patrícios e plebeus Centro e periferia Castelo e feudo Cobertura e laje Condomínio e comunidade Derrubar os muros Apagar as luzes Limpar o r...
-
Vendo de longe assim Parece que é sempre assim Que o mundo dá voltas E a gente sempre volta para o mesmo lugar Que indep...
-
Não quero chorar, quero rir até não poder evitar. Não quero um na mão, quero vários voando. Não quero guardar segredos, quero contar históri...
-
Todo mundo é legal, mas nem todo mundo tá legal ainda. O autoconhecimento nos liberta das máscaras e nos ensina a aceitar e amar quem nós so...
Nenhum comentário:
Postar um comentário